Por Anna Carolina Braile
Na calçada da Rua Muniz Barreto. em Botafogo, um grupo de jovens se aglomera sob um varal de calcinhas coloridas. Há cheiro de churrasco no ar e o samba rola solto, embalado por latinhas e latinhas de cerveja. É mais um lançamento do jornal Calcinhas ao Léo, uma publicação idependente e feminina sobre sexo, cerveja e poesia. Idéia das amigas Tatiana Berlim, Marla de Queiroz, Giselly Paulino e Mariana Silvestrin, que virou motivo de festa mensal, cada vez mais cheia.
Em comum as quatro meninas têm o curso de comunicação social na Faculdade Hélio Alonso (FACHA) e o gosto por bebidas alcoólicas. De diferente têm todo o resto. A capixaba Giselly é virginianamente organizada e está noiva. É a que "tem as idéias". A carioca Tatiana prefere as meninas aos meninos, é ariana e tem humor sarcástico, que dá graça aos textos. Solteira no Rio de Janeiro, a capricorniana Marla veio de Brasília. Lançará este mês seu primeiro livro de poesia - outra produção idependente. Já a curitibana Mariana, apesar de estudar publicidade, trabalha no mercado financeiro. Escorpiana, cuida da diagramação do jornal .
Tantas diferenças são fundamentais para o clima despojado e bem-humorado do Calcinhas ao Léo. "Somos quatro amigas etilicamente poéticas, com vocação para falar demais. Um dia em meio a uma sessão de tagarelice, resolvemos passar nossas conversas adiante", conta Tatiana. O Calcinhas não tem patrocínio, é impresso em papel A4 e tem tiragem de 400 exemplares, que são distribuídos gratuitamente. "Por que a gente quer dar para todo mundo", brinca Marla. Mas a primeira edição teve público restrito, foi criada para provar aos professores da Facha que o ócio é, sim, criativo. E se o curso é de comunicação, nada mais natural do que querer se comunicar por meio de um periódico.
Não fosse a qualidade dos textos, os hilários trocadilhos e o sucesso que o primeiro número fez entre os alunos, o jornal teria parado ali, como se fosse mais um trabalho de faculdade. Mas foi mais longe do que as autoras poderiam imaginar, graças ao processo de criação nada ortodoxo. Na edição de lançamento, deram a seguinte explicação: "Calcinhas ao Léo nasceu ao relento. Entre um gole e outro alguém resolveu desocupar a mão que segurava a cerveja gelada, substituir por uma caneta e escrever as idéias que surgiam ali, no Léo".
O Léo a quem se referem é o vendedor ambulante que há 29 anos trabalha na calçada em frente á FACHA. Todos os dias, por volta das 17hs, ele chega ao local com um isopor cheio de cerveja gelada. Não demora muito para que, à sua volta, proliferem banquinhos de plástico e conversas sobre relacionamentos, dieta, beleza, astrologia. "Meu isopor sempre foi o point da mulherada. Mas essas quatro tiveram a boa sacada de colocar todas as conversas no papel", elogia Léo.
Além de fã, o vendedor é eternamente grato ás quatro meninas. Uma vez por mês, elas garantem freguesia ao redor do isopor, durante a festa de lançamento do jornal. A cada evento o número de pessoas aumenta e a quantidade de cerveja também. "Não sei como o pessoal da faculdade ainda não reclamou. As janelas das salas de aula dão para a a calçada", diz Giselly.
Durante a diversão, as meninas arrecadam alimento não perecíveis, doados a um grupo de alunos, também da faculdade, que desenvolvem um projeto assistencialista. Há também quem venda bijuteria e artesanato. "Criamos uma feira de idéias. Pena que não temos apoio da FACHA", lamenta Mariana.A quinta edição do Calcinhas ao Léo , será lançada no dia 8. Com a mesma fórmula de comédia, sacanagem e toques da personalidade feminina, mas ainda sem atender a principal vontate dos meninos: a de pendurar calcinhas usadas no varal.